terça-feira, 18 de agosto de 2015

ESQ. CAV. 149 ANGOLA 1961-1963 COMFRATERNIZAÇÃO 2015

Camaradas de armas na Guerra Colonial, completaram-se no mês de Junho 54 anos do nosso embarque em Lisboa rumo a Luanda com destino ao Norte de Angola e centro da Guerra que naquela terra deflagrara a 15 do mês de Março anterior.
Fomos combatentes na "Operação Viriato" para a tomada de Nambuangongo, na altura, a prioridade central dada ao Comando da Região Militar de Angola. Cumprimos com distinção e rasgado louvor dado ao Esquadrão e várias condecorações dadas a Soldados por actos heróicos. Pagámos a preço de sangue com cinco tombados mortos, dez baixas graves evacuadas e cinquenta feridos ligeiros em combate nas matas e picadas angolanas. Pagámos o nosso tributo à Pátria com vidas, perigos, fomes, sedes, males, doenças e sofrimentos terríveis à chuva, ao sol, às intempéries; cada vez mais todos nos sentimos heróis irmãos pelo sangue, sofrimentos e lágrimas que todos deixaram tombar como Soldados do 149.
Muitos dos salvos e regressados também, pela lei do tempo e natureza humana, já deixaram o nosso convívio e no recente dia 09Ago2015 deixou-nos de vez o nosso Condutor Militar e Grande Comandante Cap. Rui Abrantes principal estratega herói do Esquadrão e da "Operação Viriato".
Somos os que restam para Memória viva do nosso inigualável Esq. Cav. 149 aos quais cumpre o dever de  lembrar os mortos reunindo em sua homenagem. 


domingo, 9 de agosto de 2015

CAPITÃO CAVALARIA RUI COELHO ABRANTES


1925 - 2015

Cap. Cav. Rui Abrantes na formatura geral do Esq. Cav. 149 em honra do içar da bandeira portuguesa após a tomada de Zala em 07Ago61 


O maior Comandante e melhor estratega militar na grande operação de tomada de Nambuangongo em Angola, "Operação Viriato", tombou finalmente em paz atingido pela acção implacável da Natureza Humana.
Íntegro cumpridor da disciplina militar era, sobretudo, um observador nato das condições naturais, morais e psicológicas dos seus Soldados e do inimigo para traçar o quadro de tomada de decisão adequado a cada acção para a progressão e avanço no terreno em direcão ao objectivo final.
Foi um excepcional Condutor Militar de Soldados dos quais, pela sua conduta de militar vertical e sem medo, obteve total confiança de todos e todos lhe obedeciam de vontade própria sem quaisquer reservas ou receios. E também, simultâneamente, considerando as condições duras da guerra para os seus  humanamente sacrificados camponeses Soldados, foi mui liberal e condescendente na aplicação de regras de caserna completamente inadequadas naquela guerra. 
Para o Cap. Abrantes, traçado um objectivo militar, não havia impedimentos ou dificuldades insuperáveis: havia a avaliação militar do inimigo; a elaboração da estratégia adequada ao caso; a necessidade de meios e apoios suficientes; a preparação moral e psicológica dos Soldados; fazer arrancar as Tropas para a frente de combate totalmente confiantes de que nada lhes acontecerá ou poderá deter. 
Filho de militar, nascido no Castelo de S. Jorge em Lisboa, coração da Pátria, foi sempre um impoluto cumpridor do estatuto de Código de Honra Militar de que não abdicou mesmo quando instado superiormente a subvertê-lo. Assim, sendo Comandante das Tropas em Macau no periodo da "Revolução Cultural" maoista chinesa, desobedeu ao Governador que lhe exigia uma acção parlamentar e o Major Rui Abrantes, na sua condição de Comandante militar, exigia, e só actuaria, sob uma acção militar.
Num infeliz processo disciplinar, por desobediência grave, foi expulso do Exército e só após o 25Abril, e reaberto o processo, lhe foi feita justiça e readmitido, de novo, como Militar e voltou a ter orgulho de ostentar na lapela, como herói, a Medalha de Cruz de Guerra de 2ª Classe.

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Quem nos ensinou a guerra na Calçada da Ajuda?
Quem nos quis vestir à Índio das botas ao gorro?
Quem nos marcou de lenço preto à Zorro?
Quem foi para "Viriato" como quem lhe sai a taluda?
Quem aliviou o medo dos Soldados com a "caixa preta"?
Quem nunca deu sinal de resquicio de temor?
Quem teve sempre confiança na sua Tropa e valor?
Quem nunca se deixou ser refém ou marioneta?
Quem no cambate aparecia sempre no meio dele?
Quem no meio do cambate tanto sorri como berra?
Quem tinha ideia mais clara como conduzir a guerra?
Quem nunca pediu reforços ao Com. e nunca a ele apele?
Quem perante o tipo de inimigo, mudou de táctica?
Quem ousou avançar noite e dia sem aquartelamento?
Quem pôs o inimigo sempre a recuar e sem tempo?
Quem pôs o Esq. a rolar quase de forma automática?
Quem foi duro quando não podia ser mole?
Quem foi mole quando não precisava ser duro?
Quem nunca viu no inimigo um intransponível muro?
Quem nunca deixou que o inimigo se lhe cole?
Quem partiu dias depois e chegou horas atrás?
Quem chegou horas atás e fez o caminho mais longo?
Quem desobstruiu Quipedro, Zala e Nambuangongo?
Quem fez do Esquadrão Unidade triunfante e eficaz?
Quem nunca consentiu viaturas blindadas com sucatas?
Quem ousou improvisar pontes e jangadas de paus e latas?
Quem atravessou o Dange de jangada e nada se afundasse?
Quem foi honrado com a Cruz de Guerra de 2ª Classe?
Quem conseguiu para o Esquadrão um rasgado louvor?
Quem foi de "Viriato" o Soldado mais arrojado e maior?
Quem foi demasiado ambicioso com a posteridade?
Quem em 19 de Março de 62 nos deixou em orfandade?
Quem em dez meses fez do Esquadrão herói?
Quem foi, quem foi?

Poema "Quem foi, quem foi?" do livro "Esquadrão 149 - A Guerra e os Dias" de José Neves.
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