terça-feira, 4 de setembro de 2012

QUIMBUMBE - CASA ABERTA - FAZENDA MATOMBE

A 28Jul61, deixaram o acampamento de Quimbumbe todo o Esquadrão, incluindo a Tropa adida, como o Pelotão dos Dragões de Luanda, com excepção do 1º e 3º Pelotões que ficaram a guarnecer a posição atingida.
Antes, como contámos já, um Pelotão enviado em missão de reconhecimento caíra numa emboscada donde resultaram dois feridos, na nossa Tropa, sem gravidade.
Percorridos 20 Kms atingimos Quimbunda ao anoitecer, após destruição do quartel local do inimigo, acampámos aqui e na madrugada de 29Jul61 arrancamos em direcção a Casa Aberta. Sentiu-se, desde aqui, que a prograssão era mais demorada e perigosa pois, a picada cercada de floresta densa, em pior estado e mais acidentada, estava semeada de gigantescas árvores derrubadas pelo inimigo e atravessadas em todo o percurso com vista a dificultar ao máximo a nossa progressão.
Tanbém o inimigo, cada vez mais acantonado no seu recuo e em defesa de seus quarteis-generais, mostrava-se cada vez mais frequentemente e melhor armado. Com tais dificuldades de progressão impostas pelo inimigo, atingimos Casa Aberta a 4Kms do estacionamento anterior.


De novo, na madrugada de 30Jul61, antes do arranque da totalidade do Esquadrão do bivaque de Quimbunda, um Pelotão ainda noite, antecedeu a saída das Tropas em missão de reconhecimento, exploração e desobstrução do itinerário. De novo o inimigo atacou emboscado e fez-nos um ferido, que após os primeiros socorros foi evacuado para Luanda. O inimigo actuou com uso de armas automáticas e não só com os tradicionais e artesanais canhangulos.
A 01Ago61 atingimos a região da Bela Vista e o Esquadrão acampou na Fazenda Matombe. Esta era uma pequena fazenda de café, propriedade pessoal, local de trabalho individual e residência fixa do Snr. Ribeiro que nos acompanhou e fez de guia. A Fazenda estava toda destruída e os ossos, dos corpos dos seus familiares comidos pelas hienas, estavam espalhados pelo terreiro à volta de sua casa de fazendeiro pobre.

À medida que avançávamos superando perigos cada vez maiores, íamos ganhando experiência de guerra e mais avisadas e conscientes opiniões iam surgindo acerca da condução da guerra, do modo de avançar com menores riscos, como avançar mais cautelosamente ou mais temerariamente.
O Comandante Cap. Rui Abrantes de tudo tomava nota e, conhecedor não só das opiniões dos seus oficiais, mas também da informação e opinião do Estado Maior de Operações e da situação no terreno das outras Unidades envolvidas na Operação Viriato, começara a imaginar e delinear a estratégia a tomar face ao comportamento do inimigo.


Eram percorridos 110 kms desde Ambriz e estávamos a 30 kms de Zala. Era preciso retemperar forças e definir uma estratégia para enfrentar a tomada de Zala, e de seguida caminhar em direcção a Nambuangongo.

Entretanto, no Quimbumbe, continuavam acampados os dois Pelotões
que ali ficararam guardando aquela posição tomada, por ordem do Cap. Comandante.
A situação aqui começara a complicar-se pela inactividade, pela permanência isolada e exposta a um perigoso ataque do inimigo, por falta de apoio logístico em víveres e correio.

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Entretanto em Quimbumbe, remetidos
ao acampamento e à subsistência,
os Soldados dos Pelotões esquecidos
tinham entrado em falência
de mantimentos e rações de combate,
e paciência.
Sentiam-se meio abandonados e não tidos
em devida conta pela outra parte,
que na frente se batia e abria caminhos,
enquanto eles, sem meios, parados e sozinhos,
sentiam de uma forma ridícula
a sua posição de Tropa de quadrícula.

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Ao quarto dia acabaram-se as rações de combate,
a fome estava instalada e, embora ainda não mate,
abalava fortemente o moral da Tropa toda
que ali estava e decidiu então
ir há caça, embora perigoso e proibido pelo Capitão,
na esperança de fazer uma boda
à roda de um churrasco de veado,
cagando no proibido, perigo e medo que pôe de lado,
pensando muito terra-a-terra
que, entre morrer de fome ou da guerra;
«que se foda».


Do livro "Esquadrão 149 - A Guerra e os Dias" de José Neves.

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