segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

DESONESTIDADES HISTÓRICAS

Jornal "lanceiro" Nº 27 - janeiro de 2007

MORTOS E FERIDOS NA OPERAÇÃO VIRIATO. REPOSIÇÃO DOS FACTOS.

No livro "Guerra Colonial" de Aniceto Afonso e Matos Gomes, no relato da tomada de Nambuangongo diz-se, escrito em caixa, a propósito dos feridos e baixas havidas por cada Unidade envolvida na referida operação "Viriato", que o Esqudrão 149 teve 7 feridos.
Se os autores quizessem ser historiadores sérios para escrever certa a história da tomada de Nambuangongo, tinham bastos elementos de registo a consultar para saber a verdade sobre o número exacto de baixas do Esquadrão 149.
Desde logo a morte do 2º Sargento Manuel de Sousa em Quimazangue, o qual está registado em filme "A Grande Arrancada" filmado pela equipa da RTP que nos acompanhou nesse percurso, Neves da Costa e Serras Fernandes, e é incluido na generalidade dos documentários que passam na TV sobre a Guerra Colonial. Outro documento escrito, imprescindível, para fazer a História do Esquadrão 149 é o livro do Ten. Mili. Médico Dr. João Alves Pimenta "História do E. Cav. 149 - Mais Faz Quem Quer Do Que Quem Pode", escrito durante os acontecimentos e editado ainda em Luanda em 1963, antes do embarque do Esquadrão.
Se os autores do referido livro "Guerra Colonial" tivessem o cuidado e dever histórico de consultar os documentos existentes indiscutíveis sobre o assunto ou actores testemunhos ainda vivos, não caíam no erro grosseiro de registar números que deturpam a memória futura sobre o Esq. 149 e também sobre a História da Guerra Colonial que travámos.
Teriam constatado facilmente que o Esquadrão até Nambuangongo teve 1 morto e 8 feridos entre eles três evacuados.

E muito importante, tinham oportunidade de conhecer uma boa lição de táctica militar aplicada sobre como enfrentar melhor a guerra de guerrilha, no seu estado de acção na altura, e que só o Comando do Esq. 149 intuiu, face ao estudo e análise da actuação do inimigo, e que logo empreendeu evitando com tal táctica mais feridos e baixas. Diz-se no livro do Dr. Alves Pimenta acima citado:
"Ao contrário do que aconteceu com as outras Unidades que progrediram em direcção a Nambuangongo (Bat. 96 e Bat. 114), que sofreram ataques em massa, o E.Cav. 149 não permitiu esses encontros. Foi das três, a Unidade mais rápida a progredir e, além disso, actuou no sistema de não criar hábitos que pudessem servir de referência ao inimigo. Nunca estacionou mais de três dias na mesma posição e iniciou a táctica da progressão nocturna". E prossegue: " o efeito de surpresa alcançado pelas acções realizadas contra o quartel de Cavunga (do inimigo), devem ter provocado não só desmoralização como não permitiram a sua organização eficaz".
De referir ainda que a progressão nocturna encetada não parava durante o dia: o Esq. passou a progredir continuamente noite e dia sem interrupção até Zala. E o mesmo fez de Zala para Nambuangongo e mais tarde em todas as operações em que participou.

A certificar a justeza destas palavras ditadas ao Dr. Pimenta pela experiência vivida, estão os acontecimentos passados menos de um mês apenas depois da tomada de Nambuangongo. Após um dia de descanso o Esq. 149 foi incumbido de desobstruir e ocupar a povoação de Quipedro, distante 75 Kms, onde permaneceu 24 dias estacionado. Nesse período de permanência acampada, imóvel, alvo estático, tivemos ataques e emboscadas consecutivas que originaram 2 mortos, dois feridos graves evacuados ( um cego e outro um joelho desfeito), e váris feridos ligeiros.
A prova dos nove da realidade descrita pelo Dr. Pimenta. O inimigo, neste caso teve todo o tempo para conhecer os nossos hábitos e rotinas de deslocações e movimentos de modo a preparar ataques com eficácia, dramática para a Nossa Tropa. Sobretudo a nossa necessária obrigatoriedade, sem alternativa, de ter de atravessar o Rio Lué a vau numa cova cercada de mata cerrada, altamente propícia aos ataques do inimigo que aproveitou bem, para nosso mal, tal situação favorável.

Recomenda-se aos autores do livro citado que sejam históricamente criteriosos e investiguem os dados e fontes irrefutéveis, ou testemunhos ainda ainda vivos dos episódios, para poderem relatar os factos tal como se deram e não como outros alheios aos acontecimentos os contam ou ficcionam. É que, constata-se a existência de erros semelhantes, a respeito do Esq. 149 na operação Viriato, em outros livros da responsabilidade dos mesmos autores. Iremos falar deles em seguida.

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